14/07/2011

Conflitos armados deixam 28 milhões de crianças sem escola no mundo

[caption id="attachment_3910" align="alignright" width="300" caption="Escola Primária de Mugosi, que recebe a maioria das crianças do campo de regufiados Kahe, na República Democrática do Congo"][/caption]

“A educação desempenha um papel central não só na prevenção de conflitos armados, mas, sobretudo, na reconstrução dos países afetados por eles. É uma importante força de paz que tem sido esquecida e negligenciada pela comunidade internacional.” Esse é o alerta do diretor de educação da Unesco no Brasil, Paolo Fontani, a partir do relatório A crise oculta: conflitos armados e educação, elaborado pela Organização das Nações Unidas (ONU) e apresentado nessa segunda-feira (4/7), em Genebra, na Suíça.


Ao todo, 42% das crianças que estão fora da escola no mundo vivem em países afetados por conflitos, segundo o documento. Isso equivale a 28 milhões de estudantes afastados da educação por causa da violência. “As dificuldades que eles enfrentam vão desde o impedimento de chegar à escola, passando pela falta de professores, salas de aula, até os traumas psicológicos deixados pela violência”, aponta o diretor da Unesco.


Em abril do ano 2000, representantes de 160 países se reuniram em Dacar, no Senegal no Fórum Mundial de Educação e criaram a iniciativa Educação para Todos que monitora o cumprimento de seis metas em educação até 2015.


O documento, produzido pela equipe do Relatório de Monitoramento Global de Educação Para Todos (EPT), aponta que apenas 2% dos recursos destinados à reconstrução de países afetados pela violência são aplicados em educação. Distante das prioridades no cessar-fogo, o setor ainda sofre com os desvios de dinheiro para gastos militares.


“Seriam necessários apenas seis dias de gastos militares dos países doadores para preencher o déficit de 16 bilhões de dólares no financiamento da iniciativa de Educação para Todos”, afirma o texto. A Unesco sugere a criação de um fundo específico para educação, onde haja contribuição direta dos doadores e onde se consiga elevar os investimentos na área.


O relatório adverte ainda que a falta de medidas rápidas e contínuas na educação, imediatamente após o conflito, pode dificultar a consolidação da paz, especialmente se ainda estiverem vigentes mecanismos de exclusão, intolerância e injustiça.


Segundo Fontani, “os conflitos geram um impacto grande no tecido social, por isso é preciso uma estratégia diferenciada, uma educação que envolva toda a comunidade, que privilegie a formação de professores, forneça materiais adequados e desenvolva
metodologias participativas. Enfim, é necessário construir um processo de paz no interior de cada escola”.


O estupro como arma de guerra


De acordo com o monitoramento, abusos sexuais – reconhecidos como crimes de guerra – integram a lista de violações aos direitos humanos nessas regiões, vitimando principalmente as meninas.


Na República Democrática do Congo, conhecida como a “capital mundial das violações”, 400 mil mulheres são anualmente vítimas de violência sexual, o que equivale a 1.152 incidentes diários. Dessas, um terço é menor de idade, sendo que 13% têm menos de 10 anos.


Ele avalia que o medo e a insegurança também são fatores que impedem milhares de alunos de continuarem os estudos. Exemplos não faltam: no Afeganistão, no início de 2010, mais de 450 escolas estavam fechadas por falta de segurança. Em Mogadiscio, capital da Somália, 60 escolas foram fechadas em 2009 e pelo menos 10 foram ocupadas por forças militares.


No Iraque, os anos de violência ocasionados pela Guerra do Golfo (1990-1991) e agravados pela invasão das tropas aliadas em 2003, foram responsáveis por destruir grande parte da infra-estrutura escolar, além de terem forçado centenas de professores e alunos a abandonarem o país. Em Gaza, nos territórios autônomos palestinos, os ataques militares israelenses em 2008 e 2009 deixaram 350 crianças mortas, 1.815 feridos e 280 escolas danificadas, de acordo com o documento.


Tomados como alvos legítimos das forças militares envolvidas nos conflitos contemporâneos, alunos, escolas e professores acabam sendo vítimas de ataques, seqüestros e prisões, caracterizando a violência como o maior obstáculo a ser superado neste século para o avanço da educação, conclui o relatório.


Fonte: Portal Aprendiz

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